segunda-feira, 10 de março de 2014

Falar de amor ou pedir perdão?



      Enquanto o desassossego parecia ignorar a importância do silêncio noturno daquele bairro pacato eu me perdia dentro de um solitário quarto azul, entre inúmeros pensamentos e as várias línguas afiadas da minha cabeça . 
     Naquela noite longa uma prosa incansável entre a razão e a emoção batia sempre na mesma tecla e eu apenas fingia desconhecer os assuntos daquele julgamento interno.
     Fechei os olhos no meio de um discurso de que 'você podia ter feito assim ou assado' e mergulhei involuntariamente nas boas lembrança que ainda me restavam. 
     Por alguns instantes pude sentir o perfume adocicado dos seus cachos. Cachos que me faziam cocegas em meio aquele vai e vem do seu corpo nu. Vi por um momento seus olhos brilhantes pulsando, enquanto me contava cada detalhe do seu dia. 
     Lembrei dos seus sorrisos nervosos fora de hora que me diziam frases inteiras sem eu ter perguntado nada.
     De memória em memória fui sentindo uma fome de você em forma de saudade... 
     O relógio parecia incontrolável e cada tic-tac me lembrava que o tempo não cicatriza a dor de quem não aprendeu amar quando teve sua chance.
     Peguei o telefone. Os números saíram dos meus dedos vagarosamente como o segredo de um cofre valioso.
     O telefone chama - uma pontada no estômago -. Chama - um suor escorria pelo rosto -.      Chama - um coração em desassossego -. Chama e do outro lado da linha alguém diz "Alô". 
     Do lado de cá olhos esbugalhados e mais nada. Um cão ou um rato? 
Silêncio.
    Bati o telefone com a força de quem nocauteia o seu adversário. Um rato!
    Paralisei sentindo o peso do mundo nos ombros em meio a fumaça dos meus cigarros que dançavam um triste tango sem nome.
    Mais uma tentativa. Mais uma chance desperdiçada. E mesmo com tantas frases ensaiadas diante do espelho nada saiu pela minha boca. 
    Respirei fundo e mais uma vez viajei naquele teto azul e no relógio com seu eterno tic-tac que me cobrava a pressa que eu não sabia.