segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vítima


    Uma menina tão nova, mas que já vivia de grandes doses de nostalgia. Olhava pela janela todos os dias com um ar de vítima, pensava na sua dor mais duida e só assim poderia sofrer mais que os outros sem culpa.
    Queria o mundo nas mãos, porém não saia do próprio "quintal". Conhecia a vida de alguma bolha protegida da qual saia raramente, mas assim que a coisa ficasse preta ou somente um pouco cinza ela voltava.Voltava, porque debaixo da saia da mãe suas manhas e mimos eram bons procedentes.
    Cultivava inúmeros amores platônicos que lhe enviava cartas e caixas de bombons, seguindo invisíveis só para alimentar suas ilusões de donzela inocente.
     Muitas vezes se pegava em silêncio tentando responder os pensamentos e desvendando enigmas da terra, só que por pouco tempo. A solidão de ficar com ela mesma não agradava.
    Já ouviu inúmeras vezes que tudo vai ficar bem e que o tempo cuida de tudo, mas até quando?
Até quando o tempo será solução de tudo...






sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Descompromissados enquanto dure

 
     Uma mulher independente e bem resolvida que já deveria estar atrás de um marido e não presa a um afer ou amigo intimo de um cara conhecido por Ursão. Ela já tinha 28, quase 30, não podia mais se dar ao luxo de ter um rolo sem futuro.
   Como ele mesmo dizia “Gostosa somos um casal descompromissados...". E por longos 11 meses seguiam com esse amor que aparentemente não se denominava nada nem impunha coisa alguma.
   Depois de mais um sábado sozinha, enfim largou o "urso" de pelúcia e a camisola de algodão furada. Passou o batom mais vermelho que tinha, juntou as amigas encalhadas de guerra e foi a luta!
   E o que ela queria mesmo? Dançar até seus joelhos levantarem bandeira branca, já que ser uma mulher caçadora nessa vida selvagem e cheia de propaganda enganosa anda dureza.
  Festinha meia boca. Sorrisos gratuitos. Fulanos e Beltranos. Números inutilizáveis a mais na agenda. E a raiva de ter saído de casa crescia, assim como a saudade de outro colo.
 O celular toca insistente assim que ela pega a bolsa na tentativa de ir embora a francesa. Um numero confidencial há essa hora?
 Do outro lado da linha uma voz conhecida a estremeceu...
 “Alô, Gostosa estava com saudades! Para com essa falta de compromisso e vem ser a mãe dos meus filhos pra sempre?"
 Os olhos arregalaram e mesmo tendo certeza que cada palavra que ouviu era mais uma grande mentira do palhaço "efetivado" as únicas coisas que ela conseguiu dizer foram:

- A que horas Ursão?




quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Minhas cartas

       
       Aos seus 17 e "poucos anos" ela já era assim tão doce que doía entre os dentes e tão áspera que ardia a cada palavra. Para os íntimos era ridiculamente bonitinha. Para os coleguinhas da escola apenas mais uma metida à besta.
      Sua juventude durinha incomodava os flácidos e caídos, seu sorriso de raiva impressionava, mas ela nem ligava. Na verdade ela só sorria pra atrapalhar algumas lágrimas e assim parecer mais interessante que a programação da TV aos domingos.    
     Escrevia besteiras e fazia cartas destinadas a ela mesma e depois as perdia por medo de serem todas meias verdades. Seus melhores livros tinham as páginas amareladas e várias orelhinhas, já que nunca terminou nenhum. 
     Na verdade ela nunca terminava coisa alguma. Síndrome do ponto final ou algum método do tipo "Viva o inacabado em 5 passos eternos".
    Ria dos seus pensamentos e omitia boa parte das suas historias bobas, só pra ter uma afinidade maior com ela mesma antes de dormir.
    Queria acreditar no outro, contar segredos, rir de besteiras, ter um ombro pra onde correr quando a coisa ficasse feia, só que depois de tantos problemas ter o pé atrás virou teoria de vida.
   Vez ou outra arriscava fazer uma amizade verdadeira, mas no fundo ela sabia que todas tinham sua validade... Sabe como é "amizade nunca foi coisa fácil de encontrar", então só mantinha os antigos.
    Se apaixonava com facilidade e desapegava com o mesmo talento. Nunca esperou nenhum cavalo branco passar na sua porta, mas quando achou ter encontrado um bem parecido desejou nunca mais descer dele. 
   Depois de um tempo ainda escreve cartas destinadas a ela mesma contando meias verdades que se perdem pela casa. Parou de sonhar acordada e tenta dia após dia ser alguma coisa nessa vida meia boca!